Chi Sau não é um acordo entre cavalheiros


O Chi Sau constitui, em alguma medida, um acordo entre duas pessoas que vão, através da variação da aderência dos braços, realizar movimentos coordenados entre membros superiores e inferiores. Se utilizado como ferramenta de aprendizado de técnicas ou se visto de fora pelo inexperiente, Chi Sau parece apenas um acordo.

 

Mas Chi Sau não é um acordo entre cavalheiros, muito menos convite para dançar. Chi Sau é a oportunidade que o sistema fornece para o praticante experimentar a condição de ser alguém que, primeiramente, pode ser ferido, e, posteriormente, ferir. Em alto nível, é a oportunidade de experimentar a possibilidade de morrer ou matar. Nesta ordem.

 

Contudo, ninguém precisa ser ferido, ferir, morrer ou matar para experimentar o desenvolvimento humano que a vulnerabilidade e a letalidade ofertam. Assim como os bebês e crianças, que se sentem desamparados diante de um mundo repleto de imprevisibilidade e outros seres vivos ameaçadores, nas primeiras vezes que fazemos Chi Sau sentimo-nos frágeis. O corpo humano permanece frágil, mas depois de algum tempo percebemos que podemos também ferir e matar outros, igualmente frágeis. Creio que esta percepção constitui um momento decisivo, e é quando muitos praticantes de Ving Tsun se afastam do Mo Gun: assim que percebem que Chi Sau não é um acordo entre cavalheiros.

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