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A busca pela conformação

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Conformar significa, de acordo com a raiz etimológica, estar de acordo com a forma ou dar forma a algo. O "conformado", pela ótica do senso comum, é aquele que desistiu do que acredita ou que não têm planos, projetos. "Fulano é conformado", afirmar-se-ia sobre o imediatista, que vive apenas o hoje, quase nunca com empolgação. No entanto, o "conformado" ao qual o senso comum se refere, com as garras para fora, refere-se, na verdade, ao inconformado desanimado, apático. É um tipo menos frequente. O que mais conhecemos é o inconformado barulhento, conturbado. Seja para arrumar ou para revolver com sucesso, é necessário estar conformado antes. Quem está de acordo com a forma do espaço e do tempo, plenamente "conformado", está mais habilitado para expressar suas emoções e pensamentos de forma adequada, pois reconhece o ambiente. Portanto, é hábil para afetar positivamente ou negativamente outros, contribuindo de maneira consciente para o desenvolvimen

A meta e o caminho

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A faca do Sistema Ving Tsun tem o número oito como a mais forte referência à natureza do domínio que faz parte, o Baat Jaam Do. Uma tradução do nome do domínio é "faca de oito cortes". Podemos inferir, portanto, que ela tem o potencial para realizar oito cortes, mas também que tem oito partes, corta em oito direções etc. Mestre Sênior Júlio Camacho em Aula Master com os praticantes Guilherme Farias, Rodrigo Moreira e Pedro Corrêa Ao realizar a listagem de movimentos, é importante que o praticante perceba qual parte da faca está em evidência em cada mobilização de energia. Qual está cortando? A partir de qual ponto? Quais desdobramentos cada movimento favorece? Um alerta: o corte, se visto como o que é realizado ao final do movimento, deixa "vazio" todo o percurso. A faca, assim, é conduzida por uma força estranha ao praticante. A faca corta, portanto deve ser capaz de cortar todo o percurso, caso contrário deixa de ser faca. Estrategicamente é mais inteligente dotar

Escrever em um "livro com páginas em branco"

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Recordo dos primeiros dias em que "finalmente" acessei a primeira natureza do sistema Ving Tsun. Si Suk Ursula Lima conduziu os primeiros encontros do domínio Siu Nim Tau, e a única coisa que conseguia pensar era que a caminhada seria muito longa, além de que corridas levariam a morte prematura. Ali, quando eu achava estar uma história a partir de tudo que eu estava captando e desenvolvendo, vejo hoje que na verdade era apenas uma preparação, uma instrumentalização. Não deixar de ser já um processo de escrita, mas se assemelha mais a um rascunho em alguns papéis avulsos. Minha Si Suk, Ursula Lima, e meu Si Fu, Julio Camacho Ninguém escreve história alguma sem ter onde escrever, tampouco quando decide escrever sai por aí rabiscando paredes. Além disso, para escrever uma história é necessário saber escrever e querer fazer algo com essa história ou a partir da escrita. Sem propósito não é preciso aprender, nem escrever, nem mostrar. Digo tudo isso, pois, após mais de 10 anos ini

Quem me ensinou as vantagens de ser paciente

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Quando encontrei o antigo núcleo Barra da Tijuca da Moy Yat Ving Tsun através de um anúncio online e iniciei minha experiência com o “Kung Fu” – como eu chamava à época –, fui acolhido por Ursula Lima, atualmente mestre e líder da família Moy Lin Mah. Percebi logo nas primeiras práticas com o Ving Tsun Experience que ela era a principal representante da família Moy Jo Lei Ou, liderada pelo meu futuro mestre, Julio Camacho, e irmã Kung Fu do mesmo.   Mestra Ursula Lima e Mestre Sênior Julio Camacho Todos os desafios de estar a frente de uma instituição e de uma arte que tinha grande parte do seu reconhecimento no Brasil por filmes de ação, golpes e acrobacias, além de tradicionalmente conduzida por homens, foram por ela encarados com muita leveza. De algum jeito, mesmo que ela não falasse durante longos períodos, percebi, por sua postura, que ela era muito forte e que sabia aguardar o momento certo para falar a coisa certa. A postura de Ursula Lima desfez sutilmente qualquer encantame

Chi Sau is not an agreement between gentlemen

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Chi Sau is, to some extent, an agreement between two people who will, through varying the grip of the arms, perform coordinated movements between upper and lower limbs. Whether used as a technique learning tool or viewed from the outside by the inexperienced, Chi Sau looks like just an agreement.   But Chi Sau is not an agreement between gentlemen, much less an invitation to dance. Chi Sau is the opportunity that the system provides for the practitioner to experience the condition of being someone who, first, can be hurt, and then hurt. At a high level, it is the opportunity to experience the possibility of dying or killing. In this order.   However, no one needs to be hurt, hurt someone, die or kill to experience the human development that vulnerability and lethality offer. Like babies and children, who feel helpless in the face of a world full of unpredictability and other threatening living beings, the first times we do Chi Sau we feel fragile. The human body remains fragile

Chi Sau não é um acordo entre cavalheiros

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O Chi Sau constitui, em alguma medida, um acordo entre duas pessoas que vão, através da variação da aderência dos braços, realizar movimentos coordenados entre membros superiores e inferiores. Se utilizado como ferramenta de aprendizado de técnicas ou se visto de fora pelo inexperiente, Chi Sau parece apenas um acordo.   Mas Chi Sau não é um acordo entre cavalheiros, muito menos convite para dançar. Chi Sau é a oportunidade que o sistema fornece para o praticante experimentar a condição de ser alguém que, primeiramente, pode ser ferido, e, posteriormente, ferir. Em alto nível, é a oportunidade de experimentar a possibilidade de morrer ou matar. Nesta ordem.   Contudo, ninguém precisa ser ferido, ferir, morrer ou matar para experimentar o desenvolvimento humano que a vulnerabilidade e a letalidade ofertam. Assim como os bebês e crianças, que se sentem desamparados diante de um mundo repleto de imprevisibilidade e outros seres vivos ameaçadores, nas primeiras vezes que fazemos Ch

Guarda

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Quais os potenciais em cada uma das situações que estamos colocados? Para responder essa pergunta com precisão é necessário estar em atitude de disponibilidade para transição, ou em guarda. Grão Mestre Leo Imamura demonstra no YouTube, em guarda, a guarda do Ving Tsun Guarda não é apenas uma posição. Ela é, em essência, a realização corpórea de uma não-posição por localizar-se no ponto intermediário da transição entre diferentes cenários e seus potenciais. Eu, irmãos Kung Fu Roberto, Guilherme, Claudio, e nosso Si Fu Se todo cenário conserva uma disposição que lhe é própria e simultaneamente se transforma por ser movimento de realização dos potenciais nele contido, é pela integração da guarda a todos os meus movimentos que me faço um leitor-ator perspicaz nesse cenário e posso responder à pergunta. Eu, em posição de guarda, mas fora da guarda